Entrevista exclusiva com o ex-presidente do Santos Futebol Clube Marcelo Teixeira

Nação Santista de todo Brasil e mundo a fora, com exclusividade, concedida a mim por e-mail, entrevista com o ex-Presidente do Santos Futebol Clube, o senhor Marcelo Teixeira, onde conta com detalhes tudo sobre a parceria com a DIS, a geração de Diego e Robinho e muito mais, leiam e confiram e novamente obrigado pelo prazer da entrevista caro amigo Marcelo Teixeira.

RC - O que falar sobre a geração de 2002? Foi uma Surpresa o surgimento dela? E quem foi o real mentor (técnico) dos meninos da vila? Quanto rendeu (em $$$)  e o que rendeu (bens ao clube) aquela geração?

MT - A Geração de 2002 marcou a história do Santos Futebol Clube. Ficará gravado eternamente no coração de todos os torcedores santistas e no futebol brasileiro. Todo o nosso trabalho foi cuidadosamente planejado, bem organizado, conduzido profissionalmente, com capacidade, competência e amor. Tínhamos Robinho e Diego na base e investimos muito, a partir de 2000, trazendo jovens atletas de valores, como o Fábio Costa, o Renato, o Elano, o Alex, o André Luiz, o Maurinho e outros que juntos formaram aquele time. O técnico do time foi o Emerson Leão, que aceitou o desafio que colocamos a ele. Quem nos orientou na montagem da equipe foram várias pessoas, desde diretores, funcionários, treinadores das categorias de base, mas quem teve o olho clínico, que deu o parecer técnico foi o José Ely Miranda, o Zito, capitão do time bi mundial pelo Peixe e gerente de futebol nos nossos 10 anos no Santos. A geração rendeu receitas que proporcionaram que transformássemos o Santos FC em um dos melhores clubes do país. Todos estes recursos auferidos com o time de 2002 estão contabilizados no Conselho Deliberativo do Santos FC, auditados por empresas de auditorias independentes, que comprovam a utilização de todos os recursos. Todas as nossas contas foram analisadas e aprovadas pelas Comissões Independentes e pelos conselheiros. Quem gerou estes recursos foi a minha Administração, pegamos um Clube falido, desacreditado, com uma Administração arcaica e desatualizada e transformamos o Clube em um dos melhores do Mundo. A referência é do resgate da auto-estima do torcedor santista, que era gozado pelos rivais. Investimos em 2000, quando ninguém queria presidir o Clube e fomos recompensados pelo nosso esforço com as bênçãos de Deus. Fomos vice-campeões paulistas em menos de seis meses de mandato, disputando a final com o São Paulo. Não chegávamos a disputar um título de Campeonato Paulista desde 1984, quando o presidente era meu querido pai, Milton Teixeira. Fomos bi-campeões brasileiros (2002/2004), vice-campeões da Libertadores (2003), vice-campeões brasileiros (2003/2007), bi-campeões paulistas (2006/2007), vice-campões paulistas (2000/2009). Um maravilhoso currículo, sendo responsável pelas duas gerações de Meninos da Vila, de 2002 e 2010. Precisa falar mais da comprovada competência e eficiência dos investimentos? É só passar pela Vila Belmiro, pelos Centros de Treinamentos e verem a beleza e modernização de nosso Patrimônio.  Os investimentos que transformaram definitivamente o clube em um dos melhores do mundo, com um CT de primeiro mundo, CT para as categorias de base, estádio revitalizado, entre várias outras obras. Além disso, investimos em material humano e também no futebol. Participamos de cinco Libertadores nos últimos anos! A administração atual do Santos que quer desvalorizar os últimos dez anos de nossa administração que foi vitoriosa. Eles não conseguirão, porque o torcedor conhece a verdade.

RC - Em seu primeiro mandato na volta ao Santos em 2000, foi um erro todo aquele investimento feito e apostar em medalhões já consagrados?

MT - Não foi um erro. Fomos eleitos em 1999 com a proposta de recolocar o Santos FC no caminho das conquistas. E, quando assumimos o clube, nosso elenco tinha 14 jogadores, entre eles o Narciso com Leucemia. Tinha que montar um time vencedor e contratamos diversos jogadores de peso. E conseguimos em um curto espaço de tempo, apenas seis meses, conquistarmos o vice-campeonato paulista. Além desses que você chama de medalhões, trouxermos o Fábio Costa, para ser reserva do Carlos Germano e aprender com ele, o Renato, para aprender com o Rincon, o Elano, para aprender com Robert e Viola. Essa fórmula deu resultado, pois esses  medalhões agüentaram a pressão e ajudaram a formar os atletas campeões em 2002.

RC - Quais foram os melhores e piores momentos  da sua gestão frente ao Santos Futebol Clube (2000 a 2009)?

MT - Qualquer um comete erros e acertos. O mais importante é que quando cometemos os erros, corrigimos em tempo para não prejudicar o andamento dos ambiciosos projetos. Nossa Administração é modelo, referência e exemplo no Brasil, por conquistas de títulos, inovações e pioneirismo em várias ações nas mais diversas áreas do Clube.


RC - Em relação ao goleiro Fábio Costa, o contrato feito com ele em sua administração não foi muito longo? A imagem dele não ficou arranhada após sua ida ao Corinthians em 2004? E comente, por favor, o atual momento dele, deixado de lado e sem clube.

MT - Não foi longo, pois queríamos manter até o centenário um ídolo como goleiro do clube, assim como acontecesse em alguns rivais. Se a imagem dele ficou arranhada pela sua curta saída do clube, ele soube recuperá-la com a conquista como capitão do time no bicampeonato paulista em 2006 e 2007. Sabe, veja como é estranho. Quando o Fábio saiu do clube, os atuais dirigentes, antes na oposição, o veneravam, achando que ele era injustiçado. E agora acabam com a imagem de um ídolo. Minha relação com o Fábio Costa era um pouco mais próxima, pois convivemos cerca de 10 anos juntos. Porém, ele nunca teve privilégios. Diziam que ele tinha quarto sozinho no hotel do Santos, mas lá todos os quartos são individuais. Diziam que ele levou sua TV e videogame pro quarto que usa. Isso é privilégio? Ele comprou do próprio bolso e colocou. Qualquer atleta poderia fazer isso. Essas questões são bobagens de gente pequena. O Fábio Costa é o jogador com mais títulos pelo clube depois da Era Pelé (Campeão brasileiro 2002, Tricampeão Paulista 2006/2007/2010 e Campeão da Copa do Brasil 2010) e tem uma grande ligação com a Cidade, onde tem imóveis, é sócio do Santos FC e alugava um camarote no estádio. Como ídolo deve ser respeitado pelo torcedor e pela direção.

RC - O que é a parceria com o Grupo Sondas? Fale sobre ela.

MT - Esta união com a DIS, empresa de Delcir Sonda, é muito vantajosa ao Santos. Isso porque a DIS assegurou a permanência de vários atletas no clube. Na verdade, a DIS adquiriu a parte que pertencia aos jogadores com a condição de que os mesmos ampliassem seus compromissos com o clube na questão do tempo de contrato, garantindo a permanência por mais tempo do jogador. Vale ressaltar que, em todos os casos, o Santos sempre resguardou a maior parte dos direitos econômicos dos jogadores. Além disso, em um momento em que o clube necessitava de recursos para fazer novos investimentos e contratações, a DIS disponibilizou estes valores e em contrapartida, adquiriu pequenas parcelas dos direitos econômicos pertencentes ao clube em alguns jogadores da base, que na época eram apostas e que hoje consolidaram como realidade no futebol brasileiro.  A DIS comprou a parte dos direitos do Neymar que pertenciam a sua família e o obrigaram a ampliar seu vínculo com o clube em 2009, uma atitude de parceria indiscutível. Ressalta-se que o clube tem todo o poder de gestão do negócio destes atletas no período de vigência dos respectivos contratos. Ai pergunto: se a DIS é tão predadora assim, porque a atual diretoria fez negócios com a empresa na vinda do lateral Danilo?  Não fatiamos direitos de atletas da Base, negociamos pequenos e inexpressivos percentuais para um excelente parceiro, a fim de manter nossos atletas no Clube naquele momento. Os direitos federativos permanecem com o Santos FC, com excelentes percentuais e o comando das ações. A DIS pagou 1.250 milhão Euros ao Santos FC e ainda direcionou valores pelos percentuais das famílias de cada um dos atletas, fazendo com que o atleta e sua família tivessem mais tranqüilidade e não pensassem em se transferirem para o exterior. Ampliamos seus contratos para cinco anos e aumentamos a multa contratual dos jogadores. Uma grande jogada para driblar o assédio dos clubes europeus em nossos atletas, porque os valores destinados pela DIS eram correspondentes a valores do exterior. Para se ter uma idéia, o Delcyr Sondas pagou cerca de 6.000 milhões de reais para a Família do Paulo Henrique.  A base de cálculo destes percentuais era o valor de mercado deles no momento. Na época da venda, em 2008, o grande destaque era o Tiago Luis.  O estranho é que todo mundo fala no Ganso, que na época era ainda uma grande promessa, mas esquecem os demais atletas que compõem esta parceria, como Tiago Luis, o Diego Farias, o Diego Monar, o Anderson Planta, enfim, atletas que ainda não vingaram no Santos. A DIS acreditou em nosso vitorioso projeto na Base, é um empresário sério e de respeito, não visa apenas o lucro e sim apóia o planejamento e decisões do Clube. A DIS é uma boa parceira porque  ajudou o clube a manter nomes como o Neymar e o Allan Patrick, hoje ambos na Seleção Brasileira Sub-20, além de trazer nomes como o lateral direito Crhistian e outros que brilham em nossas categorias de Base. Não tenho ligações com nenhum empresário ou empresas de futebol. No futebol tudo se sabe, ninguém consegue viver de aparências. Graças a Deus, sou muito respeitado por todos pela minha transparência nas atitudes com dirigentes, empresários, atletas e familiares, sempre defendendo os interesses da moral, da ética e do Santos FC. Tenho créditos pessoais e de minha família no Clube decorrentes de investimentos em vários Departamentos e em atletas e nunca reivindiquei no Conselho percentuais de passes de jogadores, muitos deles comprados e mantidos no Clube com os meus próprios recursos financeiros. Foi um maravilhoso trabalho e hoje sou referência e exemplo como dirigente esportivo. A atual direção tem outros métodos, não são recomendados e são muito preocupantes. Eles venderam partes do Neymar e do Arouca para uma empresa composta por diretores e conselheiros do Santos. Venderam para as pessoas de confiança  do Presidente. As pessoas que tem acesso as informações do clube. O presidente da TEISA, Álvaro de Souza,  é assessor especial do presidente do Santos FC. No futuro, se o Santos FC receber uma proposta para o Neymar, por exemplo, ele participa do processo de decisão de venda dos dois lados. E, é claro, que eles vão pensar no dinheiro que investiram. A TEISA colocou dinheiro no clube para o Santos comprar o Elano, mas exigiu ficar com parte de Neymar, que é hoje o principal ativo do clube. Porque eles não ficaram com parte do Elano? Se amam o Santos, porque não participam dos riscos da negociação? Aliás, a atual diretoria prometeu no Conselho que a TEISA iria investir em novos jogadores para a base, mas até agora, só comprou atletas do profissional. Porque será que a atual direção não prometeu o que disse quando apresentou a TEISA no Conselho? Será que foi pelos mesmos motivos que estão atrasando a chegada dos 40 milhões prometidos na campanha eleitoral do clube?  Outro fator grave: o Santos é o Clube do momento, com títulos e atletas que nós deixamos, mesmo assim não consegue entrar uma temporada mantendo o patrocínios em sua valorizada camisa. Um péssimo Departamento de Marketing, que não desenvolve um planejamento adequado com as necessidades de nossa entidade. Mais grave ainda, é permitir que uma instituição presidida por um de seus assesores estampe seu logotipo em nossa camisa, privilegiando, mais uma vez, seus amigos e assessores diretos.

RC - Sobre o caso Rodrigo Tabata, qual foi a real situação daquela negociação?

MT - O Tabata não foi vendido, mas emprestado e o clube turco Gazantiespor não cumpriu o combinado e em acordo com a Federação Turca o transferiu para outro clube turco sem pagar o que deve ao Santos FC. Já cansei de explicar isso e não vi nenhuma atitude pública da atual direção de ir à FIFA cobrar o ressarcimento ao Santos FC. Deveria fazer isso.

RC - Em relação as seus dois últimos anos de mandato, 2008 e 2009, o Santos sofreu com elenco fraco e jogadores de qualidade duvidosa, como Trípoli, Quinõnes e Sebastian Pinto e no Brasileirão lutando contra o rebaixamento. Porque isso aconteceu e quem “recomendou” tais contratações?

MT - Apesar de termos conquistado o vice-campeonato Paulista em 2009, o resultado em campo em 2008 e 2009 não foi igual aos dos meus outros mandatos.  Estávamos em um momento de transição da equipe. Fomos bicampeões paulistas e tivemos que voltar a atenção para o futebol de base, onde construíamos o elenco que acabou campeão paulista e da Copa do Brasil em 2010. Não concordo que o elenco era fraco. Afinal, Madson, Edu Dracena, Maikon Leite, Léo, foram contratados nesse período, fora os meninos da base como Wesley, André, Neymar e Ganso. Realmente o Trípoli, o Quiñones e o Sebastian Pinto não renderam o que esperávamos. Mas eram jogadores com história e currículo. Até hoje o Trípoli é o maior artilheiro das divisões de base do Boca, que revelou nomes como Palermo, Riquelme, Tevez e Saviola. O Quiñones era uma grande revelação do futebol colombiano. Foi uma aposta que não deu certo. E o Sebastian tinha jogado no Real Madrid B e tinha muita qualidade. Infelizmente não deram certo. Mas esses anos foram um processo de transição, quando a maior preocupação era segurar e lançar os novos Meninos da Vila, fruto de nosso próprio planejamento. Conseguimos manter Ganso, Neymar, Alan Patrick e outros na Vila Belmiro.

RC - A relação custo-benefício vale ou valeu a pena quando se fala em Wanderlei Luxemburgo?

MT - Sim! O Vanderlei Luxemburgo é o terceiro técnico com mais títulos na história do Santos FC. Tem uma forte identificação com o clube e com a Cidade. Em 2009, sua passagem não foi tão vitoriosa como as anteriores, mas ele foi fundamental para preservarmos nossos atletas que subiam ao profissional como o Ganso e o Neymar. É fácil analisar a relação custo-benefício após o resultado. Difícil é tomar a decisão necessária no momento. Pergunto ao torcedor, a atual diretoria acertou ao demitir Dorival Júnior? Será que se ele permanecesse não teríamos alcançado a Tríplice Coroa e estaríamos mais fortes na Libertadores?

RC - O marketing da sua gestão era falho em razão das baixas arrecadações obtidas com patrocínio, levando-se em conta os atuais da atual gestão? 

MT - Não é verdade. Essa é uma análise míope e errada. O Departamento de Marketing do Santos FC começou em 2004 e foi uma grande ação, pois conseguimos aumentar cerca de dez vezes mais o número de produtos licenciados, aumentamos as Escolas de Futebol, inclusive com escolas fora do Brasil, e negociamos valores de contrato de patrocínio até então nunca imaginados. Além disso, foi vital para o sucesso do Projeto Sereias da Vila, que trouxe Marta ao Brasil com receitas advindas de patrocínios. A atuação foi excelente. Pergunto a você. O que faz o atual Marketing do clube? Negocia equivocadamente os valores da camisa, não arrumam patrocínio para o Futebol Feminino e dizem que dá prejuízo na imprensa, e deixam o time de Juniores atuarem na Copa SP sem patrocínio, podendo ganhar com a exposição de TV, afinal todos os jogos do Peixe na Copinha são televisionados. Acho que a visão do Marketing atual é muito oba-oba, se preocupam muito com o marketing pessoal dos profissionais que lá atuam e fazem pouca coisa prática pelo clube. Quanto a valores, o mercado hoje é outro. Neymar e Ganso estão consolidados como ídolos, a chegada de Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos ajudou o marketing no futebol crescer em 2010 e 2011. Pergunto ao torcedor, se o marketing atual do Santos é tão bom, porque a diretoria adiantou as cotas do Paulista até o torneio de 2015? A idéia que o marketing está gerando muita receita será comprovada ou não no momento em que os conselheiros apreciarem o balanço patrimonial de 2010. Nesse momento, a verdade virá à tona.

RC - Faça uma análise do atual momento do Santos e sua nova gestão, ancorada pelo presidente Luis Alvaro e fale um pouco sobre os novos Meninos da Vila?

Marcelo Teixeira ex-Presidente do Santos Futebol Clube

MT - Acho que eles tem que começar a cumprir o que prometeram. Se eles cumprirem o que prometeram terão o meu apoio. A atual Administração recebeu uma herança bendita.

RC - O que representa o Santos Futebol Clube para o Senhor?

MT - O Santos FC é um dos meus grandes amores. O amor pelo Santos FC é cultuado na minha família pelo meu pai, o ex-presidente Milton Teixeira. Sempre fui com ele à Vila Belmiro. Depois freqüentei arquibancada e, a partir do início dos anos 90 comecei a participar ativamente da vida política do clube. Mas, acompanho o clube desde 1970, quando o Gigante da Vila, o inesquecível Modesto Roma, chamou meu pai para a diretoria do Peixe. Enfim, o Santos é Amor e Paixão. Sempre!

RC - Deixe um recado para a torcida do Santos Futebol Clube.

MT - Um abraço aos torcedores do Santos FC, e obrigado pela confiança nesses 10 anos.